OS VENCEDORES DE 2001 - 4º EDIÇÃO

Vencedor - Vera Regina de Quadros Ahmad (poema “O banquete do mendigo”)

“O banquete do mendigo”

Da sacada de minha casa ouço o barulho do cajado
Entre as grades que nos separam
Um velho mendigo de olhar compassivo
Passa envolto em vestes rotas
A dimensão da vida cabe no seu olhar...
Seu gesto espreita o deslize da fraqueza.
As migalhas de nossa mesa
Embrulhados de mau jeito
Caem em suas mãos trêmulas
Uma súplica! Uma dádiva! Um banquete!
No turbilhão das ruas
Os passos lentos se afastam
O velho de olhar reticente
Vagando de porta em porta
Faz a migalha da gente
Virar banquete insolente!
Cai a noite
Entre os corredores de seus sonhos
Apenas imagens de lamento e solidão!
A morada do homem na sacada ou na calçada
Busca a ânsia de viver!
Difícil alcançar o mundo do equilíbrio!


2º Lugar - Magali Vidal Domingues (poema “O eco”)

“O eco”

É excitante
ver o povo reunido na praça.
Gosto de gente falando em coro,
erguendo faixas e querendo tudo.
Bocas que não calam
ante o grito forte,
gargantas cheias de razão
e fartas de opressão.
Tenho atração por bandeiras
e curiosidade pelos hinos.
Aprecio os jornais,
mesmo que eles sangrem.
São as digitais da sociedade,
as pegadas da ideologia.
As multidões me seduzem!
E um dia
minha alma partirá em passeatas
com o crachá da dignidade
dos que tentaram acertar.
Minha voz será calada
pelo momento fatal,
mas o eco do meu esforço
há de retumbar
no coração dos meus filhos.

3º Lugar - Evanir Jacobi (poema “Miséria”)

“Miséria”

Buscando amenizar o frio,
o corpo encolhe-se sobre os jornais,
que é seu mundo, seu lar, seu dia-a-dia.
Os olhos fitam o nada,
como o nada de quem nada tem.
As mãos estendem-se enrugadas,
sujas e trêmulas.
Num gesto mudo,
busca a esmola, que esfola
e faz sangrar o coração.
Contorce-se no vazio
De comida, de ânimo, de vida.
Vida?
Os pés...
Ah! Os pés! Descalços.
Titubeantes, sem pressa, sem rumo,
enfrentando a rua gelada
e passeiam em tua consciência falida.


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